3. Chapter 3 (1/2)
iii.
nunca philippe a vira usar aquela cor. ela gostava de tons frios, como o azul e o verde. cores como o rosa, o coral e o vermelho no apareciam em seu guarda-roupa. philippe estava escandalizado com aquele traje pouco discreto. ia dizer alguma coisa, mas o chevalier de lorraine mandou-lhe um olhar de repreenso. deu um sorriso amarelo:
-que inesperado, madame!
ela sorriu. aquele tecido era um presente da tia sophie. mandara fazer a roupa há mais de um ano e jamais tivera coragem de usá-lo. mas aquela era uma ocasio especial.
- gostaram dos arranjos para a ceia?
o chevalier tinha um adorável sorriso expectante.
-apesar de estarmos na frana, meus caros, o tema de que vamos tratar é um tema germnico e, como tal, merece ser evocado.
nenhum dos dois entendeu ao certo do que ela estava falando, mas ambos mantiveram a pose.
jacques iniciou o servio.
philippe e o chevalier de lorraine viram diante de si pratos com fatias de po escuro e pores de manteiga e pequenas salsichas . a palatina sorriu quando percebeu que eles torciam o nariz.
- pumpernickel, po de centeio da vestfália. eu sempre apreciei muito.
-onde conseguiu isso, elisabeth?
-eu e maria comemos sempre. temos um fornecedor em paris.
philippe continuava sem entender aquela excentricidade.
-e porque vamos comer esse po escuro como hors d'oeuvre?
-porque eu acredito, que no há melhor forma de resgatar o passado que através dos sentidos. e o paladar, no meu entendimento, é o rei de todos os sentidos.
o chevalier ficou impressionado com as palavras ousadas de madame.
jacques serviu uma taa de vinho para cada um deles. philippe sentiu o buquê com relutncia... provou um pequeno gole.
-notei que no é francês, mas até que é bom. –admitiu.
liselotte sorriu.
- um vinho da regio do reno. foi presente de meu primo, maximilian. pode provar com moderao, chevalier. tenho certeza de que vai gostar.
o chevalier tomou um bom gole. fez um sinal e jacques tornou a verter vinho em seu copo.
- delicioso.
comeram a estranha entrada. para philippe aquilo parecia uma merenda de pastores. ela parecia agora compenetrada.
-devem saber que meu pai, apos divorciar-se de minha me, casou-se morganaticamente com uma dama da corte, luise von degenfeld . eles já eram amantes enquanto ele ainda era casado com a minha me.
philippe e o chevalier ouviam aquilo tudo em respeitoso silêncio. percebiam que aquela situao familiar provavelmente seria alvo de zombaria e descrédito na corte francesa, mas no palatinado as coisas pareciam ser vistas de forma diferente.
"-eu vivi quatro anos com minha tia sophie, em hanver. quando tinha onze anos, meu pai mandou que me trouxessem de volta a heidelberg. meu pai já tinha outros filhos com a nova esposa. eu sentia saudades da minha tia, dos meus primos, da vida protegida que levava em hanver. lá eu fui muito feliz. enquanto no me acostumava, preferia vagar solitária, pelos jardins do castelo. no tinha vontade de conversar. muitas vezes levava um livro, um pequeno farnel e me isolava."
philippe ouviu aquelas palavras com incredulidade. no podia imaginar a esposa pensativa e melancolica. ainda mais aos onze anos. olhou para ela com simpatia.
-como você era, elisabeth?